quinta-feira, 13 de março de 2014

os setenta que não se tentam...




Há não muito tempo, o meu pai contou-me uma das suas histórias. O meu pai gosta muito de contar histórias e, ao longo destes mais de 30 anos de cumplicidades, já ouvi as mesmas centenas de vezes mas, aquela nunca ma havia contado. Dizia-me ele que, quando andava na escola primária tinha um professor muito mau. Não havia dia nenhum que não "aquecesse o pêlo" a alguns alunos. E ele, o meu pai, estava constantemente entre os premiados. Dizia-me que conheceu os veios da régua de madeira como poucos. O meu pai sempre foi malandro (ainda o sabe ser) e os malandros sempre se deram bem com outros malandros, vai daí e, o grupinho dele era sempre o escolhido para levar nas orelhas. (na altura a canalha era gandula, hoje em dia é mesmo mal educada, o que infelizmente não vai lá com reguadas...) No final do ano, todos os amigos do meu pai reprovaram de ano, menos o meu pai. É então que ele tem a genial ideia de ir falar com o professor e dizer-lhe que também não queria passar de ano pois não queria separar-se dos amigos. O professor olhou para ele muito sério, com os olhos arregalados por cima do óculos a assentiu com a cabeça, proferindo apenas um: "tomava-te por mais fino, meu rapaz". Quando chegou a casa e disse ao meu avô que reprovou de ano levou, obviamente, uma coça de cinto. Quando o meu avô se cruzou, por acaso, com o professor e ficou a saber que ele reprovara por vontade própria, levou uma coça ainda maior, com direito a sermão e missa cantada. Nas palavras do meu avô: "és mais burro que os teus amigos, estes são burros porque não sabem mais, tu és burro porque queres".

Esta história veio-me à memória por causa da celeuma toda criada pelo chamado manifesto dos 70. É que parece-me que, tal como o meu pai, estamos a pedir para reprovar. Depois de termos feito todos os sacrifícios, de termos passado em todas as avaliações, de estarmos a um passo do diploma e consequente alforria, vêm agora um grupo de supostos ilustres pedir para reprovar, para voltarmos para a cepa torta, para o lixo das agências de rating. Eu não pesco nada de macro economia mas, se era para não pagar não o devíamos ter feito lá trás, antes de pedir aos portugueses os enormes sacrifícios que se pediram? Então é agora que recuperamos a confiança dos investidores, que temos juros mais baixos desde que estamos no euro, que vamos dizer que afinal não pagamos o que devemos?? É a um mês de sermos lançados aos leões dos mercados que um grupo de académicos, ex-ministros, empresários se lembram de dizer que a solução para o país é não pagar a quem deve?? E estão eles conscientes que muitos dos nossos credores são os bancos nacionais, o que provocaria um colapso bancário no nosso país?? 

Eu continuo a achar que a solução para este país é apenas e só uma, não gastar o que não tem, mas isso sou eu que não sou nenhuma ilustre...


4 comentários:

Sílvia disse...

Ora, estatisticamente falando (gosto de estatística, diz muito), 70 pessoas em mais de 10 milhões não me parece significativo. I rest my case!!

Nem vou falar de quanto essas 70 personalidades auferem, não é a serem justos e a pagar o que devem que o ganham!! Ahahah

RCA disse...

Não me querendo alongar muito, de certa forma desta vez decepcionaste-me. Se calhar ajudava que tivesses lido o manifesto, porque são poucos parágrafos e não é preciso perceber de macroeconomia, basta saber ler, para se ver que em lado nenhum se fala em não pagar.

Por esta altura se ainda papas o que o governo ou o José Gomes Ferreira dizem, se calhar ninguém aprendeu mesmo nada com o passado.

MisS disse...

Gado, por acaso li o manifesto e, há 3 anos atrás teria concordado em absoluto com ele, agora é tarde, os esforços já foram feitos e, uma proposta destas, neste momento, só vem estragar tudo o que, com o nosso esforço conseguimos. As consequências que eles aludem, já as empresas as tiveram há 3 anos. O aumento de produção e exportações conseguido pelas empresas portuguesas só não foi mais substancial porque estas não tinham crédito para comprar matéria prima e por isso tiveram de recusar encomendas. Neste momento os bancos estão a reabrir as portas ás pequenas e médias empresas, a grande força empresarial deste país, estão a voltar a conceder créditos e acredita, temos muito espaço para crescer se nos derem condições. O que não ajuda é, agora que estamos a recuperar a confiança, fazermos um penalti. E Gado, não me lixes mas "Reestruturar, pelo menos, a dívida acima de 60% do PIB" é dizer claramente que não pagamos a totalidade do que devemos.
Quanto às outras preocupações,pelas notícias poderemos ver que estão a ser tratadas, é exemplo disso a recompra de dívida pública feita o mês passado e o alargamento dos prazos de pagamento. Estes 70 ilustres não são mais inteligentes que ninguém, pelo contrário, alguns deles são mesmo directamente responsáveis pelo estado a que chegamos.
Claro que será muito mais fácil se nos for perdoada parte da dívida, ou pelo menos, parte dos juros e, provavelmente essa hipótese até estará em cima da mesa de negociações, mas estes assuntos não são para ser tratados na praça pública, muito menos neste momento tão delicado.

(Já fui duas vezes ao Fé, pá procurar o sexy red mas não tive sorte... )

RCA disse...

Suponho que agora só mesmo em moscovo...