quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

As intermitências da Liberdade...




Se há coisa que não compreendo é o trauma latente que existe dos tempos pré 25 de Abril. Não vivi senão em democracia, não sei o que é ser-se privado de liberdade de expressão mas, estudei (e muito já que tive cadeiras de história durante toda a minha carreira académica) e ouvi os testemunhos que quem viveu a ditadura em Portugal. Tenho pois um distanciamento que me permite uma análise mais fria do que era o Portugal ditatorial. Sim havia falta de liberdade de expressão, sim havia perseguição política, sim havia uma politica social demasiado severa mas, já lá vão 37 anos e há quem aja como se tivesse sido ontem. Como se, a qualquer momento, Salazar fosse levantar-se da tumba e impor-nos a sua politica novamente. Sejamos verdadeiros, como em quase todos os rankings, a nossa ditadura ocupa um lugar no fundo da tabela das ditaduras. Comparar o Salazar com outros tiranos como Mussolini, Stalin, Hitler, Pol Pot, é tão cómico com o Jorge Jesus comparar o Aimar ao Messi. No panorama mundial da época a nossa foi uma "ditadurazinha", especialmente se pensarmos que ela foi tão severa para o povo como o foi para os políticos da altura. Não temos de nos envergonhar ou esconder a nossa história, pois nós somos o resultado dela.
Isto vem a propósito do projecto da Câmara de Santa Comba Dão, terra natal de Salazar, em rentabilizar a marca Salazar. Começou com a vontade em construir um museu que contasse a vida de Salazar e do Estado Novo, logo se ergueu um coro de vozes contra, pois isso seria honrar a memória de um ditador. Não sabem pois, os ignorantes, que um museu não é um tributo senão à história de um povo. Há, no mundo,  inúmeros museus sobre o Holocausto, as Cruzadas, o Colonialismo, e são estes que nos relembram dos erros que não devemos repetir. Tentou agora, o autarca de Santa Comba, lançar um vinho de nome Salazar. O instituto de registo das marcas recusou o registo pois, segundo eles poderia ser gerador de perturbações sociais (!) (eu cá acho que qualquer vinho, mesmo sem marca, pode potenciar perturbações sociais  sempre que ingerido em excesso). Sendo eu uma filha da liberdade pergunto: onde está a liberdade aqui? Em que é que esta proibição difere do lápis azul? O vinho seria um flop? Talvez. Mas, creio que a proibição tem que ver sobretudo com o medo de este vir a ser um sucesso... É que a verdade, embora esta seja difícil de aceitar para muitos e, talvez por isso o tabu em falar do Estado Novo, é que há ainda muitos portugueses que não estão convencidos com esta democracia, especialmente quando olham para as benesses que trouxe a muitos dos  seus protagonistas.
A democracia não é o sistema politico perfeito mas, é o melhor que conseguimos, pelo menos enquanto  assegurar a liberdade individual.

7 comentários:

Sílvia disse...

Mais uma vez de perfeito acordo.
E “A minha liberdade termina onde começa a dos outros”, muito linda esta liberdade em que toda a gente deita pela boca fora toda a merda (perdão pelo meu inglês!!) que lhe apetece sem olhar ao que diz e a quem diz, ou quem desrespeita.
É que nem oito, nem oitenta!

Salazar isto e aquilo, mas fez muitas obras públicas, sem pedir dinheiro a ninguém, e sem dar a ganhar, indevidamente, a amiguinhos. Portanto, entre essa ditadura e a actual democracia... venha o diabo e escolha! Eu sinto-me bastante aprisionada actualmente!

Sílvia disse...

E óbvio que o pessoal agora tem medo da popularidade que o senhor Salazar possa ter e ainda ganhar... depois do pontapé no charco naquele concurso (de votação pelo público) da RTP, "Os Grandes Portugueses", em que foi o próprio a ganhar estrondosamente!!

Anónimo disse...

Isto só pode ser escrito por alguém que não viveu antes do 25 de Abril nem teve nenhum familiar que sofresse os horrores da pide. E só para acabar pois até tenho o estomago aos saltos, se tivessemo um Salazar agora nem aqui podíamos estar a escrever. Claro que ele não se vai levantar lá de onde ele está mas andam para aí outros com outros nomes que gostariam muito de fazer o seu papel.Eu vivi o pré 25 de Abril e posso lhe dizer que não gostei nada, mas mesmo nada. quanto ao vinho, não é aí que está o problema.

Sílvia disse...

Tenho a dizer que não votei naquilo do concurso da RTP, por isso não foi com o meu voto que o senhor ganhou... mas ganhou com muitos votos, de outras pessoas! Penso que os votos não terão sido todos dos que nasceram depois de 74, digo eu!

MisS disse...

Caro Anónimo,achei que tinha sido clara quando disse que não vivi o pré 25 de Abril. Este não pretende ser um post pró nem contra Salazar, é apenas o resultado da opinião de alguém que tem um distanciamento critico e racional dos factos e que não percebe o medo irracional que determinadas franjas da sociedade insistem incitar. Quanto aos outros que fala, não sei a quem se refere, o que sei é que nos últimos tempos, os maiores atentados à democracia que ouvi vieram de dois heróis de Abril: Mário Soares e Vasco Lourenço.
Só mais um aparte, lamento que não faça uso da liberdade conquistada em Abril e se esconda aqui sob o epiteto de anónimo.

Ana M. disse...

Como não tenho blog tanto vale dizer o meu nome como não mas se isso lhe agrada o meu nome é Ana Maria Rodrigues Torres.Sou capaz de ter idade para ser sua mãe por isso pense bem, informe-se e veja depois se tem qualquer comparação com o antes e o depois do 25/4/74.Se continuar com a mesma opinão, respeito mas fico esclarecida.

MisS disse...

Ana, como já disse sou filha da Liberdade (e por isso sou grata) o meu cerebro está formatado para pensar em democracia, de tal forma que já estive para me meter em apuros em países não democráticos. Por isso mesmo é que não entendo estas formas de censura à nossa própria história. É que liberdade é um conceito que não concebo pela metade.