quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Rebirth...



Hoje estou de parabéns. Hoje comemoro 12 anos. Não, não nasci no frio mês de Outubro, tão pouco no ano 2000 mas, renasci. Este foi o dia em que uma equipa fantástica de profissionais da medicina salvou a minha vida, numa fase em que já nem eu acreditava que seria possível. Mas comecemos pelo início...
Há 16 anos foi-me diagnosticada a doença de Crohn. À data, o mais difícil desta doença era o seu diagnóstico que só acontecia após vários meses de sintomas. Comigo foi diferente, o diagnóstico começou a desenhar-se mesmo antes dos sintomas físicos. Começou com uma anemia e a teimosia do meu médico de família em descobrir a sua origem. Quando começaram os outros sintomas já estávamos na pista do Cronh. Não foi um período fácil e claro, o pior cenário pairava nos meus pensamentos. Quando o gastro confirmou que era Crohn, que se tratava de uma doença muito em voga nos jovens, que era crónica mas que não dava para morrer, eu respirei de alívio, mesmo sem saber o que era a doença de Crohn. Eu processei: não é cancro. É uma doença fashion. Não vais morrer disto. Eu e o Crohn tivemos uma convivência pacífica até eu mudar de vida. A minha entrada na Universidade, a mudança de cidade, de casa, de amigos, de hábitos alimentares desencadeou uma grave crise. Seria apenas mais uma crise se, o ego do meu primeiro médico não fosse tão grande como a sua ignorância. A situação agravou-se ao ponto de eu correr risco de vida. Eu pesava menos de 40kg (deixei de me pesar quando cheguei aos 40), não tinha forças para dar 3 passos seguidos e era incapaz de me alimentar. A situação deteriorava-se de dia para dia e esta foi a minha realidade durante sete meses. Cheguei mesmo a ter um padre no quarto para a extrema-unção e os boatos da minha morte por vezes lá surgiam entre as conversas de café. A minha sorte mudou no dia em que o meu tio-avô, incomodado com o meu estado, com o meu desânimo e com as experiências do meu médico pegou em mim e me levou para o hospital da Universidade de Coimbra para ser vista por um professor doutor, conhecido por ser uma sumidade na doença. O homem, pelos meus exames, direccionou-me logo para aquele que ainda hoje é o meu médico e a quem entrego de cruz a minha saúde e a gestão da minha doença. Fui operada no dia 31 de Outubro e aí renasci. Passados 15 dias estava a sair do hospital pelo meu pé, com algum do peso recuperado. Um mês depois estava de volta às aulas e á minha vida até aí suspensa. Desde essa data nunca mais tive uma crise que necessitasse de internamento hospitalar. Aprendi a viver com o Crohn e ele aprendeu a viver comigo. Eu abdiquei de comer especiarias e ele aprendeu a gostar de chocolate. Mais do que as cicatrizes, a doença deixou marcas internas, mudou a minha personalidade, a minha maneira de ver e estar no mundo. A minha vida divide-se em AC e DC, sendo que aqui o C é de Crohn. A minha realidade é em tudo semelhante à de qualquer pessoa sem enfermidades, com a diferença de que tenho um maior conhecimento sobre casas de banho públicas. Não me sinto mais nem menos por ter uma doença crónica, encaro a minha situação com normalidade e até com humor. A aceitação da doença como coisa intrínseca, foi um processo que durou anos e que fez parte do meu crescimento. Hoje, dedico-lhe a mesma atenção que dedico ao meu apêndice ou ao meu baço, tenho mesmo um acordo implícito com o meu médico, eu trato da minha vida ele trata da minha doença. E assim tem resultado lindamente, já lá vão 12 anos.

3 comentários:

Sílvia disse...

Aaahhhh...
Ainda bem que já está tudo bem (dentro do que é possível). ;)

Sílvia disse...

E já agora parabéns pelo renascimento! Muitos mais anos de vida! Beijinhos

Gija disse...

E ganhaste um cartão mágico ;)!!!
Agora a sério, nem me tinha dado conta que já passaram 12 anos, lembro-me bem de te ver a esmorecer de dia para dia, dos boatos que havia acerca de tua doença, mas felizmente tu superaste tudo e cá estas entre nós, tu e o Crohn que foi aceite como mais um do gang!!! Logo a gente festeja como sempre o teu segundo aniversário.