sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Momentos que ficam...


Tínhamos decidido ir passar o final da tarde ao Leblon. Após uma breve caminhada no calçadão, sentamo-nos a saborear uma cocada e a ver o povo passar. Elas sentaram-se de costas para o mar eu sentei-me de lado, gostava de sentir a brisa do mar. Um senhor já bastante idoso pedia esmolas perto de nós, os nossos olhares encontraram-se. Sorri-lhe. A pele estava marcada pelo tempo,e queimada do sol, os olhos eram de um azul profundo, o sorriso transparecia uma jovialidade de contrastava com o ar cansado do corpo. Aproximou-se nós, encorajado pelo meu sorriso. Disse-me que não era por acaso que eu estava sentada assim. Contou-me que os meus Orixás eram Iemanjá, Olokun e Oxum, entidades ligadas ao elemento água. Que eu estava muito ligada ao mar e que devia ter este como refúgio. Sempre que algo me perturbasse, que me sentisse em baixo, deveria ir junto do mar, pois este tem o condão de me acalmar, de me incutir esperança e discernimento. Ouvi o senhor deslumbrada, não tanto pelas suas palavras mas, pela paz que a sua voz emanava. Contou-me ainda que pedia dinheiro na rua porque tinha a seu encargo a sua mãe, uma senhora com 98 anos, e que tinha jurado para si mesmo que nunca deixaria que a mãe passasse fome. Elas, receosas no início também baixaram a guarda e ofereceram-lhe um sorriso. Ao ver o sorriso da Ju ele resplandeceu e disse-lhe imediatamente que ela já havia encontrado o seu amor e que iria constituir uma família linda, com filhos lindos. Disse-lhe ainda que os problemas que a preocupam iriam passar. Nessa altura a Ju tinha começado a namorar para um rapaz que hoje é seu marido e pai dos seus dois filhos, lindos. O seu pai, à data lutava contra uma doença renal, foi transplantado com sucesso e hoje leva uma vida normal. Nós rimos ao ouvir aquelas previsões. Perguntei ao senhor se ele não via nada igualmente risonho no meu futuro, já que a única coisa que me aconselhou foi a procurar ajuda  junto ao mar. Ele sorriu-me, disse-me que eu era especial e  para nunca perder a esperança.

Esta história é real, passou-me há 15 anos e muitas vezes recordo as palavras do senhor. Momentos há em que as interpreto como uma sentença do meu mau fado outras, com a esperança de que algo muito especial irá acontecer. Quando olho para a minha vida, nestes últimos 15 anos vejo que, de facto, o senhor não tinha nada de excepcional para me contar. Preferiu ocultar-me os momentos conturbados que tive de atravessar e, foram muitos! Ainda não perdi a esperança embora, este seja um activo difícil de manter nos tempos que correm. Alturas há em que precisaria de me enfiar numa jangada no meio do Pacífico para receber a protecção dos meus Orixás e mesmo assim.... Resta-me esperar que  no fundo do túnel haja pelo menos um candelabro...

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